INTRODUÇÃO
O adoecimento crônico infantil, como o diabetes mellitus tipo1, pode desencadear diversos conflitos familiares ante o diagnóstico, como, dificuldades financeiras; redução ou interrupção dos momentos de lazer; sobrecarga do cuidador principal; e desestruturação familiar com repercussão negativa em toda família (NÓBREGA et al., 2013). Ante essa realidade, é imprescindível que haja uma articulação entre o contexto cultural da criança e sua família e as intervenções de enfermagem, a fim de extrapolar o caráter instrumental do cuidado. Nesta perspectiva, os pressupostos da Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Leininger (2006), oferecem fundamentos para o cuidado cultural de enfermagem facilitado por atividades lúdicas e educativo-terapêuticas dirigidas às crianças diabéticas.
OBJETIVO
Descrever a experiência de um espaço lúdico e terapêutico e as possibilidades de cuidado sociocultural às crianças com diabetes.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo na abordagem etnográfica, guiado pelo modelo observação-participação-reflexão proposto por Leininger (2006). A coleta das informações aconteceu em um serviço de referência no tratamento de diabetes do Sistema Único de Saúde (SUS), localizado em Fortaleza-CE, no período de agosto de 2013 a março de 2014. Participaram 20 crianças em idade escolar, com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 há no mínimo um mês, excluíram-se as crianças clinicamente instáveis no momento da coleta. Utilizou-se a entrevista semiestruturada com questões norteadoras e oficinas com bonecos de pano e kit de ensino (seringa com agulha, canetas e frascos de insulina). A análise seguiu as fases do guia da etnoenfermagem: transcrição, descrição e documentação das informações; identificação, categorização; identificação dos temas e descrição das ações e decisões de enfermagem para o cuidado cultural (LEININGER, 2006). O estudo cumpriu as exigências éticas da pesquisa com seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará com parecer nº 181.489 de 18 de dezembro de 2012.
RESULTADOS
A temática "O enfrentamento da vida pontiaguda: o uso do lúdico no processo de ensino-aprendizagem da insulinoterapia" abordou as principais dúvidas e parte das subjetividades identificadas nos relatos das crianças e cuidadores na aplicação da insulina, como: "quando vou tomar a insulina, já ficou roxo" (Barbie); "não quero que minha mãe aplica na minha barriga... porque vai furar alguma coisa lá dentro, acho que é o intestino" (Homem Aranha); "Às vezes eu aplico e às vezes minha mãe, só no braço e na barriga, não gosto na coxa porque dói muito" (Ben 10); "Tenho medo de machucar meu filho, não aplico na coxa porque teve um dia que sangrou, aí fiquei com medo" (Mãe do Ben 10). "Tenho um caroço nesse braço, a enfermeira disse que foi porque apliquei a insulina no lugar errado" (Cinderela). No contexto aduzido, a indicação do cuidado cultural de enfermagem foi a negociação do cuidado cultural, com as seguintes ações: estimular as crianças para autoaplicação da insulina, com utilização do kit de ensino e dos bonecos; demonstrar os locais de aplicação e rodízios nos bonecos de pano; discutir as principais complicações como a lipodistrofia e hematomas destacados nos bonecos. As crianças demonstraram interesse nas ações para o autocuidado relacionado à insulinoterapia, questionaram sobre o rodízio e locais de aplicação da insulina e forma de aplicação. Observou-se momentos de descontração enunciados por risadas quando viram o brinquedo. Essa estratégia foi destacada pelas crianças como facilitadora do aprendizado: "Eu gostei da boneca, ela é linda e posso brincar com ela, fazer injeção nela" (Barbie). O uso do brinquedo proporcionou momentos de recreação e maior interação entre o enfermeiro e a criança/família.
CONCLUSÃO
No cuidado às crianças diabéticas, geralmente enfrentam um contexto de vida de adaptações diárias para o controle glicêmico e devem receber apoio familiar e da equipe multiprofissional no processo educativo e terapêutico. Observou-se que a utilização do lúdico nas orientações dos cuidados relacionados à insulinoterapia aliada à necessidade das crianças de brincar valoriza a condição individual de cada sujeito e pode amenizar o sofrimento causado pelo medo das injeções diárias de insulina ajudando a criança a aceitar melhor os procedimentos terapêuticos no controle da doença.
REFERÊNCIAS
NÓBREGA, V.M.; REICHERT, A.P.S.; SILVA, K.L.; COUTINHO, S.E.D.; COLLET, N. Imposições e conflitos no cotidiano das famílias de crianças com doença crônica. Esc Anna Nery. 2012 Out-Dez; v.16, n.4, p.781-8.
LEININGER, M.M.; MCFARLAND, M.R. Culture Care Diversity and Universality: a worldwide nursing theory. 2ª ed. Toronto: Jones and Bartlett, 2006.